terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sobre Alguém Que Ele Nunca Poderia Ser


Por Jordan Campos

Todos os dias nos despedimos de algo sem saber. Existem aquelas coisas que insistem em ficar, pois no fundo achamos valer à pena. Contudo, a “pena” às vezes é muito pesada para a leveza de nossa alma que precisa ir. Escrevi este texto abaixo ontem em Guarulhos, quando esperava outro vôo. Ele usa “ele” e “ela” para enfatizar pólos que são nossos. Não necessariamente são duas pessoas. Embora... A sua interpretação é que vale. Vale tudo!

...

Ele se lembrou de quando você era a direção de tudo que ele queria.
Mesmo sendo tão diferentes. Vocês podiam clarear o mais escuro dos dias.
Você não tem ideia de quanto ele tentou e chorou por você.
Em certas noites ele se afogou naquelas lágrimas e ninguém veio o salvar.
Você tinha um orgulho maior que a impedia de construir o “barco da salvação”.
Dava o nome de amor-próprio à sua projeção paterna, fria e assentimental.

Ele sentiu muito, pelas emoções que nunca foram satisfeitas.
Sentiu, pelo cara “normal” que ele nunca foi e que você tanto queria.
Talvez para acomodar e servir de desculpa à sentença que você carrega de ter que ser irritantemente: média.
E poupar sempre em dar o que tinha de melhor. Seu melhor era imbatível. Ele amava isso.
Mas... Lembrava que no silêncio você olhava para ele fixamente
E no fundo de seus olhos você via alguém que ele nunca poderia ser.
Ele era o inverso do que te aprisionava: síndrome de presidiário ela tinha.
Arrumava qualquer desculpa para voltar à prisão quando solta. Condicionamento cruel.

Lembro quando eu vi vocês discutirem querendo cada qual defender que o erro era que cada um “amava de mais”. Mas, o que é o amor?
O amor dele foi aquela luta toda explícita (ninguém jamais fará isso por você), era a decisão maior que ele tinha, a luta para colocar o mal no lugar e fazer dele o bem, de não desistir por um segundo. Ele jamais te abandonaria quando mais precisasse dele.
E foi assim que você foi pelo menos para ele, talvez você fosse “velha” de mais para saber amar. A cada momento que ele tropeçava e mais precisava você fugia, abrindo a maior das feridas dele. Você sabia disso... E naqueles dias ele morreu várias vezes.

Deus os permitiu fazer coisas lindas e até escapar da morte juntos.
Todos os heróis estavam morrendo e cada qual passou a ser seu herói, mas quem realmente deu toda a sua verdade? Até nas vezes que ele mentia era verdade.

Toda vítima vai apenas enxergar muito pouco além da pequena parte que acha que está certa.
Vai estar no poço, chamando o Super-Homem e abraçada a uma kripntonita.
Vai buscar todas as provas para argumentar isso e deixar um rastro de monstro em quem era teu príncipe.
Engraçado que você teve todas as provas do que acontecia de verdade nos bastidores.
Mas você escolheu a mentira das vozes que te guiavam, atraída pelo ritmo infeliz daquelas mulheres de teu sangue, infelizes, que você sem saber queria imitar e honrar.
E os tijolos foram caindo e você decidiu pela milésima vez bater a porta.
Mas da última vez a chave caiu por dentro.
E quando ele foi pegá-la, entendeu simplesmente o óbvio de que ele era alguém que nunca poderia ser, para você.
Ele confundiu o símbolo do que você representava, por você. Isso no final.
E não o restou outra alternativa, a não ser dizer Adeus naquela noite.
Seu coração não mais se partiu em vários pedaços como antes, ele não mais poderia estar nas suas mãos. Ele só precisava de cuidados básicos...
Um beijo por semana de tirar o fôlego. Um abraço apertado sem ter que pedir.
Um cafuné como os que te fizeram dormir tantas noites.
Um cativar seguro, e que o fizesse sorrir, sem o medo da “porta bater”.

Verdadeiro foi o amor dele, no caminho de ser o melhor a cada segundo.
Todos têm seus dejetos e quase nunca ficamos sabendo deles.
Os homens aprendem a fazer isso cedo.
O maior erro dele foi ser tão explícito que deixava os rastros do que deveria aprender
Ele quis por tudo te dar o melhor. Só sabia ser assim.
Mas você se trancou no castelo de suas ilusões, achou que era uma grande vítima
E deixou a prova que tanto pediu fazer com a última página em branco e entregou à mesa.
Acontece...

Hoje o peito dele vai em brasa desejando brisa...
“Toda a sorte da escolha para você”. Ele mandou dizer.
Ele entrou no bar ontem e encheu a cara de coca-cola.
Digerir tudo aquilo que tirava seu brilho.
A chave que caiu por dento não te pertence mais.
É que ele recusou entender quando as flores realmente murcharam.
Você defendeu que os espinhos machucavam, e que só os via.
Ele insistia que mais acima haviam pétalas cheirosas e férteis, na chegada.
Cada qual escolheu sua parte, onde era um todo, na verdade.

Deixou ontem, ele um bilhete embaixo de minha porta para te ler:
“... Agora te desejo o teste da vida e o do tempo que nunca trai.
Boa sorte, o meu rio não foi suficiente para guiar.
E agora eu apenas lembro de sua face vendo um alguém que eu nunca poderia ser.
Pois este alguém podia ajudar a te salvar.
E você, se fizesse isso trairia sua dor e se libertaria...
Tudo bem se não deu certo, eu achei que nós chegamos tão perto... Adeus.”

 ...

2 comentários:

  1. Me identifico tanto com o que voce escreve.Um dia,talves,queria ser o tema da poesia da semana,rs!!!

    Um abraço afetuoso!

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  2. Mais uma vez tento encontar respostas. Mais uma noite se vai. Em claro. Ainda bem que vc existe.

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