domingo, 5 de julho de 2009

Liga das mulheres (objeto) – Uma crítica ao quadro do Fantástico


Estava neste domingo deitado em minha cama quando de repente me chamou a atenção um novo quadro do programa Fantástico da rede globo. A liga das mulheres. Um grupo de mulheres de várias formações que dirigidas pela boa repórter Renata Ceribelli tenta ajudar outras mulheres à beira de ataque de nervos em suas vidas de casada. O programa que estava vendo tinha como protagonistas uma mulher acima do peso, complexada com isto e com transtorno alimentar evidente. Ela tinha uma filha e tomava conta da mesma, embora fizesse faculdade. O marido dela era uma figura inusitada. Estava separado dela e com a amante, quando descobriu que a dita cuja estava grávida e decidiu assumir ao seu jeito a ‘encrenca’. Ele faz o tipo curto e grosso, pouco romântico (tenta disfarçar na frente das câmeras, mas não me engana) que sustenta a casa e por isso quer tudo do seu jeito sem reclamações. Até aí tudo bem, talvez mais um casal normal. Até a tal liga resolver entrar em ação e tentar resolver o problema com uma receitinha de bolo de liquidificador.

Decidiram visitar a mulher e a levaram logo a um médico. A mulher tinha um conflito interno tão grande que na consulta nem subiu na balança. O médico, para não perder o bom costume receitou um remédio para ajudá-la a controlar o apetite. Remédio nada!!! Receitou uma droga inibidora de neurotransmissores, serotoninas, dopaminas e noradrenalinas, esta mulher ia sentir um colapso na mente complicado. Estes remédios fazem uma mega operação contra o organismo, fazendo a pessoa parar de ter fome por inibir recursos naturais, que se estão acontecendo querem dizer alguma coisa. Os efeitos colaterais são vorazes como raiva, insônia, disfunções orgânicas, depressão e o pior: dependência química e psicológica. Detalhe: o remedinho pode até fazer efeito, mas depois o sábio organismo que sofreu ‘pra cacete’, quando se para de tomar, reflete que passou a tempestade doentia (pois o corpo enxerga como algo muito errado acontecendo) e volta a engordar tudo de novo. Depois a mulher foi a uma nutricionista que fez a clássica dieta das seis vezes por dia, cortando um bocado do que ela gostava: quase tudo para ser resumido. Depois a liga extraordinária resolve dar um banho de auto-estima nela, depois dela quase chorar por que queria ter o corpo da Scheila Carvalho que segundo a dieta da revista emagrecia 5 quilos em uma semana. Levaram a coitada vítima da receita de bolo, quase solado a esta altura, a um estúdio de fotografia - ensinaram a disfarçar que se está acima do peso usando as próprias roupas e clicaram a mesma em várias poses. Reconheço que ficou bem legal, e ela até foi elogiada pelo marido que telefonava chamando alguém para conferir o feito do século. “Ela tá bonita... É ela mesma, venha aqui ver”. Pelo jeito deve ter cobrado ingresso.

Então a poderosa liga conversa e chega à conclusão que fizeram um trabalho de sucesso. Até se emocionaram e choraram um pouquinho. Quer dizer que levar a mulher num médico, receitar umas drogas pesadas, cortar comida e tirar umas fotos que em dois dias o espelho vai negar tudo vai resolver? Pôxa!!! Mais um quadro que trata a mulher como objeto, que precisa de receitas para ser aceita e entendida na sociedade. O programa é machista, superficial e irresponsável, pois amanhã mesmo muitas mulheres vão procurar médicos pedindo o remédio e outras muitas vão comprar sem receita. Onde fica a famosa responsabilidade social? Já não me basta ver aquelas revistas nas bancas que ensinam a mulher em 3, 4, 6 ou 10 dicas infalíveis a serem bonitas, fazerem o melhor sexo, dar mil beijos diferentes, conseguir dinheiro... Tudo para ser aceita no universo masculino???

A liga deveria propor um tratamento psicológico, terapêutico para poder entender a raiz do problema. A rejeição interior que a faz estocar alimentos com medo de abandono. O problema é pela minha visão algo do tipo. Mas inventam de tapar o sol com a peneira. Ela tem problemas que remédio e dieta não vão resolver. Muito menos foto. Motivação é informação sobre si mesmo, é a oportunidade de devassar os programas inconscientes que nos fazem repetir erros. E aquela mulher tem vários, e nenhum foi nem um pouco resolvido. Do contrário, envernizados até a próxima chuva chegar.


Para refletir, vou dormir.


...

4 comentários:

  1. Você tocou no ponto certo: até que ponto a "maquiagem" será suficiente? Até que ponto varrer a poeira para debaixo do tapete, tentando enganar a nós mesmos, provocando momentos instantâneos de felicidade e euforia, vai nos ajudar a resolver as reais pendências?
    Gostei muito de sua reflexão. Acabou por me induzir a pensar sobre isso também.
    Obrigada! Bjs

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  2. Muito bem comentada essa questão.Vi a matéria ontem e me questionei até que ponto nós mulheres somos objetos de especulação?como nos deixamos ser?qual a vantagem de tudo que foi "oferecido" a pessoa "atendida"?excelente reflexão Jordan, parabéns!Muita PAZ!bjs, Rai.

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  3. Pois é, infelizmente vivemos submetidos a tanta mediocridade e alienação que às vezes "olhar acima da linha d'agua" parece impossível e até mesmo um contrasenso: Será que sou eu? Me pergunto constantemente se não estou exagerando...Olha, no fundo estão tentando fazer o melhor... O inferno está cheio de boas intenções!!!!! `E Fantastico!!!! È isso mesmo Jordan, você está certo, mas aí vem em seguida uma pergunta terrível: O que podemos fazer?

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  4. eu tb vi esse quadro do fantastico, concordo ctgo DR . jordan . que adianta a pessoas ir a esses medicos , fazer essas " plasticas superficiais " ( escova , maquiagem e etc) se qdo ela acordar no outro dia os seus problemas lá estarão firmes e forte , e sem, falar que qdo ela for dormir a sua escova de cabelo , sua maquiagem irá sair e ela vai acordar ....me poupe .... rs

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