Estava voltando para casa esta semana quando parado fiquei em um longo engarrafamento. Algo deveria ter acontecido, pois não era normal que às 22h aquela avenida estivesse assim numa quinta-feira simples. Os ânimos estavam alterados, aliás, como em qualquer evento que pareça tirar um segundo da rotina deste povo de meu planeta Terra. A ansiedade estava num processo perigoso e acelerado em toda esta gente. Todos assaltados por pensamentos ansiosos e antecipatórios, e sempre insatisfeitos com tudo. Não importava se tinham um bom emprego, queriam mais; se tinham uma boa família, procuravam sempre algo para servir de desculpa em suas escapulidas... Um quadro repetitivo e vazio. E que aos poucos por falta de solução, somatizava as conhecidas síndromes psiquiátricas na mente. Depressão, pânico, TOC, transtornos alimentares – todos prolongamentos distintos de um mesmo agente: a ansiedade. Mas de onde vinha esta ansiedade? – Essa era a pergunta recorrente em meu consultório e em eventos que participava. Culpavam a mídia, a globalização, as exigências de mercado, o ritmo acelerado. Não estavam errados, mas também não totalmente certos. Eu havia depois de anos estudando o assunto e levando à prática, observado que todas estas pessoas tinham algo muito em comum: sofriam de solidão. Uma solidão profunda. E solidão não é falta de gente para sair, namorar ou fazer sexo, isto é carência, e carência não é solidão. Solidão também não é o sentimento experimentado pelas pessoas que estão longe ou pelas que já se foram e não podem voltar, isto é saudade e saudade não é solidão, embora muito confundida com esta. Muitas vezes nos impomos um tempo íntimo e nos afastamos para reorganizar a mente e respirar um pouco, e isso é busca de equilíbrio e jamais solidão. Outras vezes o destino nos coloca, sem perguntar se queremos, num claustro involuntário como lagartas em casulos, e isso é uma lei da natureza. Falta de gente ao lado é simplesmente um momento, um detalhe. Solidão é muito mais simples e duro que isso, é quando nos desconectamos com nossa própria alma e procuramos desesperadamente pelo nosso EU. Solidão é ausência do EU. É quando dentro de nós não existe mais esta identidade e ficamos ansiosos a procurar algo que possa fechar este buraco.
Procuramos em ocupações, em compras, em paixões vazias e príncipes encantados e soluções que caiam milagrosamente do céu e nos enganamos em todos os beijos e camas que deitamos, produzindo assim uma doença de solidão que a depender do mapa mental de cada um fica representada com a classificação moderna das síndromes psiquiátricas. É como se cem pessoas estivessem dentro de uma sala fechada e lá fosse lançado um agente alérgico. Destas cem, setenta nada sentiriam. Dez sentiriam muita coceira, dez começariam a espirrar, cinco sentiriam falta de ar, três sentiriam os olhos arderem e muita dor de cabeça e duas entrariam em choque anafilático. O mesmo agente levando a uma repercussão diferente em cada ser. Assim é a solidão como agente alérgico. Ela invade aquele ambiente e provoca a sensação de algo errado que é a ansiedade, e logo depois alguns desenvolvem depressão, outros pânico, transtornos alimentares e TOC. Poucos podem pirar mesmo e cometer um suicídio.
A teologia explica que a solidão é a falta de Deus em nós, que precisamos dele para nos sentir completos. A sociologia explica que quando o indivíduo não corresponde às expectativas das normas sociais vigentes em sua cultura, este ser fica a par da sociedade e desenvolve uma solidão social. A psicologia ortodoxa enxerga que problemas no comportamento e na formação da personalidade fazem o ser se sentir só, complexo, traumático e desenvolver a solidão. A filosofia é um tanto mais radical e diz que nascemos sós e vamos morrer a sós, e que nada adianta se fazer como perda de tempo – devemos aceitar nossa solidão e viver com ela.
Na era atual podemos entender que de tudo isso há uma vertente real, e que se olharmos profundamente a solidão não é falta de alguém ou de algo; é sim falta de si mesmo – falta de identidade. Perdida em alguma circunstância traumática e dolorosa, talvez muito antes de nós mesmos como nomeados em nossas carteiras de identidade. Carregamos uma solidão congênita, que pode ser na memória biológica de nossos ancestrais ou na memória espiritual de outras vidas. Mortes mal morridas desenvolvem uma sub-personalidade de solidão, o espírito fica perdido no momento da morte e não consegue se guiar ou ser guiado, não entende e não aceita aquela morte e se sente traído por Deus e por ele mesmo nas suas crenças imediatistas e provisórias. O destino compulsório impõe outra existência a este ser como prova de amor e continuidade, mas um simples fator traumático, como um parto complicado, por exemplo, evoca a memória da sub-personalidade. Outras pessoas são vítimas de tragédias, de guerras, onde todos morreram e elas ficaram sós. De abandonos profundos que levaram à morte. De prisões em sentimentos, objetos e circunstâncias. E precisam ‘voltar lá’ e reconectar a experiência para trazerem de volta o seu Eu. Hoje temos solidões químicas também, onde as drogas o álcool e os vícios produzem um adeus à identidade e ocupam este lugar provocando a dependência e muitas vezes a morte social e real. Sempre que colocarmos a nossa felicidade em algo ou alguém, estamos prontamente justos a fracassar. Pois tudo pode nos decepcionar, até nos mesmos! Digo com firmeza que a síndrome do pânico ou qualquer transtorno de raiz ansiosa começa na solidão, ou na falsa completude. Quando a ‘ficha começa a cair’ o corpo assusta e o tal ‘vômito mental’ chega e desesperamos. Toda pessoa que desenvolve a crise deve parar e perceber que sente solidão. Talvez seja uma daquelas com a ‘síndrome do eterno insatisfeito’, mascarando a imensa dor que sentem pela falta de si mesmos. Solidão, solidão... Solidão.
A teologia explica que a solidão é a falta de Deus em nós, que precisamos dele para nos sentir completos. A sociologia explica que quando o indivíduo não corresponde às expectativas das normas sociais vigentes em sua cultura, este ser fica a par da sociedade e desenvolve uma solidão social. A psicologia ortodoxa enxerga que problemas no comportamento e na formação da personalidade fazem o ser se sentir só, complexo, traumático e desenvolver a solidão. A filosofia é um tanto mais radical e diz que nascemos sós e vamos morrer a sós, e que nada adianta se fazer como perda de tempo – devemos aceitar nossa solidão e viver com ela.
Na era atual podemos entender que de tudo isso há uma vertente real, e que se olharmos profundamente a solidão não é falta de alguém ou de algo; é sim falta de si mesmo – falta de identidade. Perdida em alguma circunstância traumática e dolorosa, talvez muito antes de nós mesmos como nomeados em nossas carteiras de identidade. Carregamos uma solidão congênita, que pode ser na memória biológica de nossos ancestrais ou na memória espiritual de outras vidas. Mortes mal morridas desenvolvem uma sub-personalidade de solidão, o espírito fica perdido no momento da morte e não consegue se guiar ou ser guiado, não entende e não aceita aquela morte e se sente traído por Deus e por ele mesmo nas suas crenças imediatistas e provisórias. O destino compulsório impõe outra existência a este ser como prova de amor e continuidade, mas um simples fator traumático, como um parto complicado, por exemplo, evoca a memória da sub-personalidade. Outras pessoas são vítimas de tragédias, de guerras, onde todos morreram e elas ficaram sós. De abandonos profundos que levaram à morte. De prisões em sentimentos, objetos e circunstâncias. E precisam ‘voltar lá’ e reconectar a experiência para trazerem de volta o seu Eu. Hoje temos solidões químicas também, onde as drogas o álcool e os vícios produzem um adeus à identidade e ocupam este lugar provocando a dependência e muitas vezes a morte social e real. Sempre que colocarmos a nossa felicidade em algo ou alguém, estamos prontamente justos a fracassar. Pois tudo pode nos decepcionar, até nos mesmos! Digo com firmeza que a síndrome do pânico ou qualquer transtorno de raiz ansiosa começa na solidão, ou na falsa completude. Quando a ‘ficha começa a cair’ o corpo assusta e o tal ‘vômito mental’ chega e desesperamos. Toda pessoa que desenvolve a crise deve parar e perceber que sente solidão. Talvez seja uma daquelas com a ‘síndrome do eterno insatisfeito’, mascarando a imensa dor que sentem pela falta de si mesmos. Solidão, solidão... Solidão.
Cheguei ao final do engarrafamento e muitos solitários voltaram para as suas casas cheias, mas vazias. Andavam em bando, mas eram sós.
Forjavam um verniz de potência sobre tudo – alicerce de vidro.
Jordan
ResponderExcluirGostei muito desta reflexão sobre a solidão. Sempre leio tudo que você escreve no blog e no grupo do yahoo. Percebo realmente que as pessoas põe a culpa da sua infelicidade em alguém e, sabendo que elas mesmas são culpadas por não ter escolhido ser feliz. Em consequência gera a solidão seja de que forma ela está expressada.
Grande Abraço.