Era uma vez uma menina de traços fortes e alma tímida.
Ela tinha um velho piano e remendos de peças de família. Ela tinha uma irmã-espelho que às vezes a confundia e outras a consolava em dias de trovões.
A menina era triste por não poder falar, só tocar.
A menina tinha um bocado de sonhos naquelas notas imensas e prolongadas.
Quem não esconde seus mais secretos desejos num baú qualquer?
Alguns perdem de vista e nunca mais o encontram – num universo paralelo.
Outros, sexuais e criativos, compõem e criam o surreal.
A menina tinha medos, traumas e vergonha.
Chorava escondida e jurou um dia ser feliz.
‘Mochilou’ as partes de sua identidade que restou e foi tentar a sorte na cidade grande.
Uma fuga e um encontro.
Descobriu que as ‘nuvens não eram feitas de algodão’...
E que os homens precisavam parecer mais que são: sendo feios, envergonhados e inseguros.
Ela não teve pena deles e os usou a seu bel prazer.
Confundiu tudo e fez escolhas também.
Magoou um tanto e se vingou um pouco de seus pais, avós, ancestrais e daquele deus da igreja.
Ela não precisava ir mais à igreja para saber o que é certo e errado.
Ela não precisava de anéis de brilhantes para adornar corações de pedra.
E lá ia ela, a menina do piano, de cabelos desarrumados.
Um dia tomou a pílula maldita da lucidez para testar como seria fazer o papel.
Foi o início do fim... Um outono necessário de folhas que caem.
Antes uma profana explícita que uma canalha silenciosa.
Ela não sabe ainda o que quer de tudo isso.
Mas sabe muito bem o que não quer.
Nem sempre faz o melhor para si mesma, mas nunca faz o que não está a fim de fazer.
Ontem ela machucou os dedos quando uma’ ficha’ caiu.
E ficou preocupada em deixar o piano assim enferrujar.
Sua antologia estava ali.
Ela está agora entendendo que não é a cobertura, e sim o sorvete.
Pronta para melar o nariz e sorrir sem precisar mais de palavras.
A canção, enfim está voltando...
A paz chega iluminado seu olhar... Está escutando as dores do silêncio e deixando-as partir.
Entregando seus sentimentos, corpo e mente...
E reaprendendo a voar.
A menina pode estar ali, aqui ou ao seu lado bem agora.
Pode estar num e-mail escondido, no seu trabalho, ser sua vizinha,
Ou a mão que escreve agora estes versos soltos.
Mas isso agora é o que menos importa.
...
A menina que hoje não sabe ao certo como se sente por cada vez sentir "menos". Descanso da alma. Estranho descanso...
ResponderExcluirLindo texto...