Por Jordan Campos
Quisera eu, nos trinta e poucos anos pretéritos que antecederam sentar aqui às 02h04 da manhã, e ter o afã de pensar poder ler todos os livros, provar todos os gostos, saber todas as falas e rimas, todas as formas de tocar meu violão e os instrumentos imaginários que embalaram o extremo que sou e que somos.
Hoje presto atenção na sombra do vento que me revela segredos que não escutava antes.
Sei que poderia ter feito melhor, que deveria ter calado naquele minuto que me rendeu dois anos de discussão, que falhei tentando ser mais do que supunha, mas que ri horrores justamente por não levar teorias ao travesseiro.
Será que evolui? Não, a evolução não é a idade, não é o ganho tecno-cultural, nem tampouco as facilidades de se fazer mais e, ou melhor.
A evolução é simplesmente se dar conta do que sempre existiu.
Na verdade tudo já é, só traduzimos. Evoluir é traduzir.
E das minhas histórias caladas parei de culpar, exigir de mais ou arrepender.
Se eu voltasse, se nós voltássemos àquele dia, faríamos exatamente igual.
Pensamos que teríamos outra ação, e isso é mero engano.
Truque do ego que interpretou a conseqüência póstuma, nada a mais que isso.
Eu gosto muito do que sou hoje, então agradeço aos meus desafetos, a quem me fez chorar, às doenças, aos colapsos, aos divinos demônios que são responsáveis por que eu seja exatamente assim. Devo tudo a vocês, também.
Mas... Estou indo... Nesta inexata exatidão.
Então, não é triste agora saber que não irei a todos os lugares que queria, nem que não vou conseguir ler tudo que queria, nem exagerar o tanto que queria...
A existência, nesta sala de aula do grande Educandário, é curta demais para lamentações e extremos culposos.
O tratado do auto-amor platônico tem que sair do papel.
Rapunzel tem que cortar os cabelos e abrir a porta da casa e apresentar a escada e a mesa de jantar - a Esperança que entrou de verde tem que voltar, e de verde ainda mostrar seu interior multicolorido. Nem vou corrigir o que estou aqui digitando numa velocidade psicográfica, vou deixar como está. Nesta ‘sala de aula’ existe uma escolha, e não várias desculpas.
Sem passado ou futuro, só presente. Embrulhado dentro de nós.
De exato, minhas histórias caladas, explicitadas no inexato ato de meu olhar clandestino.
De inexato a centelha divina da surpresa do segundo que vem, e que venha de todo, da forma que vier, ‘que seja feita a vossa vontade’.
E mesmo se rebelde permanecer, vou baixar a cabeça e tentar não reagir e só sentir.
Quando a febre vier me provar de novo que lutei e luto, quando eu terminar este falatório...
Vou deitar e fechar os olhos para o fora e abrir para o dentro. Sim, desafinei naquele dia.
Sim, não sou tão grande quanto supunha.
Sim, falhei naquele dia e noutro.
Sim, emprestei sem poder e queria de volta o mais rápido. Não, não fiz por mal, não me leve a mal, se puder me perdoe.
Sim, às vezes duvido, quem não o faz?
Mas sim, só espere de mim uma sinceridade tão ilógica para teu ego que por vezes desentenda.
Sou o homem-sol que adorava tempestade.
Exata é minha partida.
Inexata minha chegada.
(silêncio)
...
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