sábado, 14 de novembro de 2009

Atemporal



Nestes dias tenho feito auto-regressões potentes estimulado por uma velha amiga paulista que conheceu um mundo estranho há cerca de 23 anos atrás, no qual eu estava lá, mas que como Plutão, foi rebaixado, por um astrônomo ridículo e egoísta qualquer.

Ela conta sobre meus tempos de infância e sobre façanhas e coisas misteriosas. E outras lindas, como a alma dela é.
Sim, sou eu na foto ao lado.

Comecei neste ‘prólogo’ acima para falar de identidade ou algo similar. Afinal você se conhece bem? Saberia tudo que há dentro de você agora mesmo? O que faria com toda a informação eclodida que algum mecanismo de defesa, de boicote ou de luz guardou? Acostumamos ao agora sendo atemporais. Tememos a morte, aranhas e baratas. Criticamos os outros para nos escutar, mas se alguém falar nisso tapamos os ouvidos.
Crescemos... esquecemos o frescor de um céu azul e brilhante e rezamos para trovões não pertubarem. Ríamos deles e esquecemos tudo isso... Chega um momento em que não paramos mais de morrer. E só uma coisa pode nos salvar: a nossa história silenciosa, mas não para viver no saudoso, e sim para contemplar de cara limpa o agora – mas ela se encrava num canto qualquer do hemisfério direito. Existem pessoas boas que passaram na nossa vida, existem pessoas más e existem nós. O nosso EU que é tudo isso, sem pólos, resultado de exatamente tudo. Temos tudo numa soma divina correndo em nossas veias, feridas, lágrimas e gozos.

Minha filinha de dois anos hoje me abraçou e disse: “Pai, você é tão lindo!” – E raciocinei rápido: crianças não mentem, pelo menos até terem que fazer isso para sobreviver... ops, volta, volta Jordan.
Atraímos o que nos falta. Colocamos pessoas nas nossas vidas para aprender o que nos falta em mil personalidades congênitas atrás. Os laços de sangue vêm para dar mais uma chance, e triste é ver as partes desistirem. Volta, volta Jordan (de novo).

Queremos mais e andamos em círculos. Deixamos livros pela metade, procuramos defeitos nos nossos parceiros, e mil desculpas outras, por pura solidão. Queremos ganhar na loteria e esquecemos de olhar no espelho. Solidão voraz de nossa própria identidade que se ejetou em um dia passado qualquer e se perdeu do caminho de volta. Esta identidade aguarda num lugar triste e frio por uma simples mão, um bom banho, uma comida leve e um cafuné para dormir em paz em nosso peito, e nunca mais sair de lá.

3 comentários:

  1. Regredir pode ser "traumático" muitas vezes porque nos leva a lugares que por fuga tentamos esquecer.No entanto, quando passado o susto as respostas para muitos questionamentos podem nos levar a cura de traumas e frustrações.Quando vc diz que criança não mente está certo.Já ouvi alguém dizer"criança é de uma crueldade...", mas não vejo por essa ótica.Gosto sim de conversar com crianças porque essas não usam máscaras e nos levam a reflexões profundas quando fazem algumas afirmações.Ei, gostei da foto, muito fofo...Bjs, muita LUZ!

    ResponderExcluir
  2. Jordan,você começou a fazer o necessário. Depois o que era possível, e de repente, você está fazendo o que era impensado, ser este pai e companheiro amado, ser um terapeuta competente e para acabar com qualquer supeita, és um escritor de mão cheia.
    Vamos continuar a ler seus textos que sempre nos levam a uma reflexão mais cuidadosa.
    Está valendo a pena!!
    Bjos Ana

    ResponderExcluir
  3. ...Sem comentários, você realmente sabe e como fazer isso - parabéns!

    ResponderExcluir