sábado, 20 de março de 2010

Reflexão sobre Casamento, União, Similares e Genéricos.

Por Jordan Campos

Semana passada estive incumbido da nobre missão de realizar a cerimônia de um casamento. Unir duas pessoas numa cerimônia fora dos padrões da igreja tradicional. Uma cerimônia espiritual. Inspirado pela noite linda e pela honra e responsabilidade deste ato novo que até antes nunca havia feito, refleti... vou falar abaixo ora em primeira pessoa, ora em segunda pessoa.

Antes de ir à cerimônia, eu procurei no dicionário o significado de ‘casamento’ e encontrei que “casamento, casório ou matrimônio é o vínculo estabelecido entre duas pessoas, mediante o reconhecimento governamental, religioso ou social e que pressupõe uma relação interpessoal de intimidade, cuja representação arquetípica são as relações sexuais, embora possa ser visto por muitos como um contrato.” Eu não gostei muito deste conceito, confesso e acredito que você que está lendo também não.

Eu sempre digo para que nunca, jamais se casem quando estão apenas apaixonados. No meio caótico moderno de nossas vidas é como dar um belo tiro no pé. Pois que paixão, por simples paixão não gera um terreno fértil para a ação ousada dos tempos modernos. Paixão é uma febre, vem etimologicamente da palavra grega pathos, que significa patologia – então estar apenas apaixonado significa estar apenas doente. E quando esta febre acabar, o que ficaria? Dizem que o melhor amigo é aquele que conhece tudo sobre nós e mesmo assim continua sendo nosso amigo. Eu diria o mesmo para o melhor parceiro e parceira a se casar.

Devemos entender que aceitar alguém, e ser fiel, presente e, sobretudo e mais importante do que qualquer conceito de fidelidade é o de lealdade, significa aceitar toda a história familiar de cada um. Quando casamos, fazemos o ato também com a mãe do nosso parceiro ou parceira... com o pai, com irmãos , tios, avós, do outro - estejam estas pessoas presentes ou não fisicamente, você abarca neste momento tudo isso, todos eles. Pois somos fruto e conseqüência de toda esta constelação e não adianta os noivos quererem fugir disso, eles sempre vão ganhar e ter que assumir o pacote completo – podem decidir morar em Marte, mas morarão com todos os antepassados deles - com os conflitos, inseguranças, conquistas e alegrias e de todo o passado ancestral... E só entendendo e principalmente assumindo isso poderão ser tolerantes o suficiente para se discernirem no meio deste todo. Pois podemos ser de repente um destes antepassados.E quando ele ou ela for o pai, avô ou um tio distante e presente, você vai entender?
Não se casa com uma pessoa, mas com uma imensa e complexa constelação. Se todos entendessem isso, teriam mais ferramentas para respirar mil vezes em todos os momentos de uma união, e com um amor silencioso por vezes, apenas abraçar e amar. Pronto, tocamos no amor. Acham, os ignorante de tal sentimento, que amar significa juntar, estar colado, quando não, dentro um do outro. E quando se odeia ou se tem profunda mágoa, distantes ficam. Enquanto é exatamente o contrário.

Para um relacionamento dar certo realmente é preciso que neste existam três coisas fundamentais: um pouco de ausência, um pouco de insegurança e um pouco de surpresa. Sim, já pensaram porque os apaixonados ficam extremamente ligados um ao outro? Por que têm ausência e não estão a todo o momento no espaço um do outro: têm que voltar para as suas casas. E o exercício agora é estarem na mesma casa e mesmo assim poderem se permitir ir para as suas casas internas, sem sufoco, sem a presença que estrangula, anula, força a barra – este é o primeiro conceito. O segundo, quando falo de insegurança é entender que o casal não tem a posse um do outro, é a sutil e boa insegurança que faz com que saibam que são livres e não conformados, em ter que ter um ao outro à força por que assinaram um papel, usam alianças ou por qual moral hipócrita. Não! O contrato que vale é o do coração, do respeito, do sentimento maior. Vocês são de vocês. Muitas vezes colocar uma aliança significa: “Pronto, consegui, é meu – a aí então a coisa toda desanda.” O terceiro segredo é o da surpresa, de se reinventarem a cada instante. Digo sempre a casais em meu consultório que escutem um ao outro, que não reajam com palavras. Um casamento, sobretudo é construído na linguagem não verbal. Numa discussão, são dois armados e ninguém se entende, ficam esperando o outro acabar para dizer as suas ‘verdades’. Escutem, sintam, toquem. Nunca durmam sem resolver um problema ou um conflito. Tenham paciência, renunciem, cedam, compreendam todo o universo que é o outro. Não julguem. Sempre numa união as pequenas coisas serão as grandes coisas. Façam a fórmula pessoal de vocês. Tragam a oração sincera para o lar de vocês. Quando as linhas parecerem tortas, entendam que ela é na verdade certa, que Deus não erra - que pedimos sempre na oração que seja feita a vontade dele, então que aceitemos a situação com visão de resolvê-la de fato com indulgência e temperança. Os casais nunca devem ficar velhos para não se darem as mãos, para não dizer ‘eu te amo’, para não se deliciarem com os temperos infinitos que podem criar.

Você já foi à nascente de um rio? Já observou como são as pedras nesta nascente? Pontiagudas e cheia de farpas. E vão se desprendendo e no decorrer do percurso vão ajeitando as pontas, perdendo a capacidade cortante e se transformado. No começo estamos exatamente assim como estas pedras, com as pontas não lapidadas de nossa história familiar, com a ‘infância’ ainda normal do nascer de qualquer coisa. E quando então estas pedras chegam à sua foz? Quando vão desaguar no mar? Elas estão arredondadas, bonitas, prontas e parecem se amar, uma às outras. O atrito é o responsável por este fenômeno. O atrito lindo do se jogar de verdade um no outro, de viver intensamente e sem medo, de ousar chegar lá. Logo ali, no imenso mar. Se não estiverem prontos para o mar da união, silenciem e aguardem, esperem a paixão ceder e o amor certo triunfar. Um verdadeiro casamento ou união deve ser criado e não apenas vivido despretensiosamente.

Vem aí em 05/04 a palestra: Não discuta a Relação e Seja Feliz - Agenda disponível no site:  http://www.jordancampos.com.br/

Um comentário:

  1. Bela lição de como entender o casamento.Quando pensar em fazê-lo vou seguir o roteiro.Muita PAZ!bjss.

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