quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Anjo Torto

Por Jordan Campos

Parecia pior... Pior que o medo de ver o sol e mais um dia chegar.
Se protegendo na noite onde tudo parece mais calmo, velado.
Refúgio único.
Ele parece mal, muito mal.
Pai e mãe que nunca teve estão mais longe ainda
A chuva é o único som e a goteira uma companhia irritante
E tudo o que já fez parece para nada servir neste momento

Quem vai ajudá-lo?
Quem vai atendê-lo?
Listas de celular servem para quando se está bem e perto.
Atualizando páginas de relacionamentos e nenhum sinal, aquilo já era obsessivo.
Longe, ali... Só a chuva o serve.
Orando para que um raio o leve para um mundo mais bonito, que seja.
Ultraromântico, quase desistente, escreveu assim num papel amarrotado:

Torpe fadiga das causas pedidas
Veneno homeopático suicida.
Acalenta-me, sentimento rude!
Cante-me uma doce canção de ninar.
No pelourinho, com as mãos atadas.
Quem me dilacera, se estou só?
Água salobra, lágrima vermelha.
Saboreiam-me, apenas as moscas.
Do leite derramado em bolsa frígida.
Do refém que paga em dobro para não devolvido ser.
De todas as canções de amor que fazem trair:
Somos iguais fingindo sermos os tais.
Da diferença que sei.
Pelo que cansei.
Depois de todas as feridas que untei.
Deste sereno artífice, da Fé dos que não recuam.
E pisam no abismo.
E simplesmente...
Aprendem a voar.

Embebedou-se da lucidez pior, com maior teor de realidade.
E lá se foi mais um, sem respostas.
Às grandes perguntas que só na sua mente se pôde fazer
Pois que palavra alguma significaria.
Sentindo-se apenas a placenta crescida e não o filho bendito.
Seu rosto era inundado e disfarçado ao mesmo tempo
Pelo choro persistente daquela noite.
Pelo suor ansioso a espera do Sol
E pela chuva que já inundava tudo.
Bela dissimulação da dor.

Arrepender-se de quê?
Perdoar a quem?
Quem era a vítima... Quem o tinha colocado ali?
Ele mesmo, destino, Deus?!
Neste momento em que o pior dos pesadelos é estar acordado
Ele se foi...
Abençoado pelo trovão e apanhado pelas mãos de um anjo.
Anjo torto e lindo, mas não caído.

Não... não havia mais tragédia, havia renascimento.

2 comentários:

  1. Que lindo!algo que parece trágico, um pedido de socorro, mas que na verdade é a renovação, o tão bem concluído "renascimento".Parabéns querido terapeuta, muita LUZ!bjss.

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  2. Depois da "catarse" vem a luz... Você está certíssimo! Bjss

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