quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Saudade (voltando pra casa)


Adaptada por Jordan Campos
Em memória a Italvar Cruz (garanta gargalhadas do lado de lá)

Trancar o dedo numa porta dói.

Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói morder a língua, dói
Cólica, cárie e pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.

Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do daquele que se foi cedo de mais, do amigo imaginário que nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.

Você podia ficar na sala e a pessoa no quarto, sem se verem, mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e a pessoa para a faculdade, mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, a pessoa o dia sem vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor,
Ou quando alguém ou algo não deixa que esse amor siga,
Ao outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.

Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se a pessoa continua fungando num ambiente mais frio.
Não saber se a pessoa continua sem fazer a barba por causa daquela alergia.
Não saber se a pessoa ainda usa aquela saia.
Não saber se a pessoa foi à consulta com o dermatologista como prometeu.
Não saber se a pessoa tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre ocupada; se a pessoa tem assistindo às aulas daquela pós graduação maluca,
Se aprendeu a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial;
Se aprendeu a estacionar entre dois carros; se ele continua preferindo Coca-Cola;
Se continua preferindo suco;
Se continua sorrindo com aqueles olhinhos apertados;
Se continua dançando daquele jeitinho enlouquecedor;
Se continua cantando tão bem;
Se continua detestando o MC Donald's;
Se continua amando;
Se continua a chorar até nas comédias.

Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.

Saudade é não querer saber se a pessoa  está com outro, e ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso...
É não querer saber se a pessoa está mais magra, se a pessoa  está mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;
É deixar partir e mesmo assim continuar de mãos dadas para sempre.
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você, provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...

2 comentários:

  1. Realmente, quando estava finalizando a leitura "bateu" a saudade.Essa palavra que desperta tantas emoções e faz lembrar muito de nossa vida.Parabéns Jordan, mais uma vez me emocionei com um texto seu.Muita LUZ!bjs.

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  2. O coração ficou pequenininho agora! Cada texto que leio, parece que você escreve sobre minha vida!rsss Bom demais!

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