sábado, 18 de setembro de 2010

Uma outra visão sobre o filme NOSSO LAR

Por Jordan Campos utilizando discussões realizadas no grupo "Voadores", pelo prezado Lázaro Freire, entre aspas.

Vamos lá... Eu li o livro “Nosso Lar” há 18 anos atrás quando estava completamente imerso no movimento espírita. Lembro que entre a minha adolescência e fase adulta já era coordenador de atividades espíritas em dois centros na época. Passei literalmente por todas as fases e etapas para ser um “espírita” trabalhador. Depois, desculpem a franqueza, vi que isso era muitas vezes um excesso doutrinário tipo militar, pois a maioria dos dirigentes ainda carregava naquela época, em si, a disciplina ortodoxa de seu passado religioso ou de frustração como síndicos de seus antigos “condomínios”. As coisas estão mudando... Ok. Lembro que o movimento espírita me decepcionou quando estive frente a frente com os bastidores das políticas das casas espíritas. A filosofia espírita é linda, a codificação feita por Kardec e Chico serão fontes de estudos por milênios. Li toda as obras de Chico Xavier por “André Luiz” – sempre fui fã dele e ao ver que a sua obra iria virar filme me preocupei. E o filme me decepcionou um tanto. Digo isto como um Espírita de fato sem o rótulo imposto e entendido pela FEB (Federação Espírita Brasileira).

Fazendo uma leitura crítica do filme, não o classifico como um filme espírita. Ele está bem distante do livro. O filme não é o livro: É uma obra de ficção inspirada no livro “Nosso Lar” e nos diálogos nele contido. O Filme é fraco para o que propõe e tem furos graves que não tiveram assessoria necessária. Muitas pessoas ridicularizam ele, e a culpa é da direção que se esqueceu de explicar coisas necessárias, tais como: vestuário no mundo espiritual, alimentação... A coisa do” bônus hora”, da família espiritual... E ainda mistura isso tudo a uma cidade que fica entre uma Brasília e a cidade dos Jetsons... Francamente, se o feito era gerar bilheteria com “efeitos nacionais”, fazer uma adaptaçãozinha e jogar uma rara oportunidade fora – conseguiram. Conseguiram confundir a cabeça das pessoas. Coisas básicas para quem nunca teve acesso ao espiritismo foram omitidas e pecaram feio. Para um espírita o filme é perfeito e simples, não estou chamando aqui de espíritas aquelas pessoas que vão aos centros esquentar cadeira, assistir doutrinária, tomar passe, beber água fluidificada e voltar para casa e ser tudo igual, ok? Vernizes de hipocrisia... Chamo de espíritas as pessoas que a cada dia se esforçam em melhorar e agem com o que conhecem; mas para os não espíritas é uma mera diversão.

"O que vimos no filme, como diversão, não é tão bom. Mas é aceitável sim, comparado com muitos filmes sobre vida após a morte. Fica difícil dizer, pensando melhor, até que ponto os atores globais são realmente maus atores, já que eles representam o papel de “ESPÍRITOS ESPÍRITAS”, com linguagem introduzida não pelo Chico, mas pela FEB que acaba fazendo de todas as suas publicações algo carola e de linguagem ultrapassada. Poucos negros ali ??? (provavelmente a maioria, por afinidade religiosa e cultural, teriam ido para outra cidade espiritual, passando ou não pelo umbral antes). Os mais elevados, como a mãe do André, tampouco estavam ali. Convenhamos, vimos uma cidadezinha de cristãos portugueses e cariocas do séc. XIX. e aqueles "mais ou menos", que precisam morar numa espécie - na visão do filme - de Monte Olímpio dos Umbrais."

"Outra coisa que precisamos lembrar é que o filme não é sequer uma adaptação fiel do livro “Nosso Lar”. É uma concepção livre e artística, onde colocam até Emannuel de ministro das comunicações. O desenho da cidade tampouco é fiel ao livro, ou a tal planta da cidade recebida mediunicamente. É outra concepção artística baseada nas descrições. Ou seja, fazem uma obra de FICÇÃO DIDÁTICA, com grande inspiração em Nosso Lar e seu formato de diálogos. Há furos de roteiro e coerência, mas em parte são culpa também do livro, que já continha alguns deles. Por exemplo, o sanitarista Carlos Chagas - que segundo Chico e muitos outros, seria o verdadeiro nome por detrás do pseudônimo "André Luiz", e que parece ter sido coerentemente a inspiração estética para montar o personagem que morreu em 1934. O livro relata anos de umbral, pelo menos uns 8. E então eis que, tempos depois que ele está em Nosso Lar, chegam as almas da guerra em 1939. Essas incoerências já foram apontadas contra o próprio livro, inclusive pela própria FEB no tempo que o proibia (Nosso Lar não foi aceito no meio espírita por muito tempo). Na época do lançamento de Nosso Lar, a FEB e Chico já haviam tido problemas com a suposta autoria espiritual de Humberto Campos. Para evitar problemas com a família - que exigia ou que parassem com esse desrespeito com o nome do morto usado para “proselitismo” doutrinário , ou que pagassem então os devidos direitos autorais - a FEB teve que passar a assinar os livros como sendo do "Irmão X". Essa história de "dar gratuitamente o que gratuitamente recebeste" em geral só beneficia financeiramente - de modo bilionário - a editora dos livros e dos filmes. Nada contra o dinheiro e religião, tudo contra a hipocrisia. Nesse aspecto, o processo da família de Humberto Campos contra a FEB foi didático. O pobre Chico, igualmente lesado inclusive no seu direito de ser traduzido, era vítima do mesmo grupo também. Não foi o único constrangimento que o médium passou na vida devido à ganância, proselitismo e controle da FEB."


"O filme incentiva a culpa e reprime a emoção. É um grave equívoco. Acho compreensível dentro do que acreditavam os espíritas de 70 anos atrás, desconhecendo neurociências, comportamento e psicodinâmica básica. O problema é que o filme mostra isso como praticamente uma LEI UNIVERSAL, e não atualizou isso, aí o argumento já cai por terra. Um espírito da época teria o direito de não saber ainda que emoções sejam constitutivas e naturais, e não um pecado mortal. Mas, supomos, DEUS precisaria já estar avisado de suas próprias leis. O que vemos ali é uma condenação perigosa das emoções, com forte senso de culpa. Aliás, a condenação nem é só essa. Do modo como é mostrado, em flashes mal explicados, o grande pecado de André teria sido fumar (era normal até 10 ou 20 anos atrás), comer bem (nem era gordo ou mal tratado assim), tomar um Martini. E, vá lá, na cultura da época, ter dado um beijo ou outro numa rapariga de vez em quando. Talvez trabalhar um pouquinho demais, sendo um pouco mais distante dos filhos, mesmo estando com eles naquela vidinha tranqüila da época. O filme mostra que devemos nos culpar e muito por "atos" suicidas como esse. Sinceramente, se fosse assim, estaríamos TODOS perdidos. Deus teria que mudar as regras. Mãe separada chegando tarde em casa, pelo jeito então, nem no umbral passa. Se bebesse ou transasse de vez em quando, então... Outra idéia repressora é a de que basta um pequeno pensamento de emoção - um marido ter pequeno ciúme por sua ex estar com outro, por exemplo, ou uma jovem se cansar um pouco de um tom por demais carola e professoral - para a pessoa ganhar um passaporte quase que imediato para o umbral. Se fosse assim, creio que muitos dirigentes espíritas estariam perdidos e já no umbral. Afinal, emoção não é apenas isso. Então, creio que a mensagem acaba se tornando apenas repressora. Condenadora das emoções, da vida. Algo um tanto quanto platônico. Compreensível, para a visão de um espírita. Mas um pouco estranho se tomado, conforme apresentado, como se fosse "a" Lei Universal de Deus."

"Muito curioso e atemporal o recebimento dos judeus em 1939. A "solução final" de Hitler é de 1941. Em 1939, que eu me lembre, temos a invasão da Polônia, e o começo dos guetos. Não ainda o extermínio em massa. Compreendo que esses fatos não fossem bem conhecidos por aqui sequer na época da escrita do livro, na década de 1940, talvez ainda durante a guerra. Mas supõe-se que, em se tratando de algum grau de realidade, o plano espiritual devesse saber, e ser coerentes com datas que Chico de fato não precisaria ainda conhecer." Erro grave!!!

"Os efeitos especiais de fato foram toscos, especialmente levando-se em consideração a contratação de empresa especializada, e orçamento milionário. Não é um critério subjetivo estético meu não, acontece que VISIVELMENTE o cenário apresenta partes DESENHADAS, outras modeladas no estilo edifícios funcionais de Brasília (simples e quadrados, para facilitar), e outros de construções bem artificiais no estilo "Os Jetsons", futuro do pretérito. Há anacronismos gritantes, do ponto de vista estético, partes do cenário em estilo nave da Star Trek, mas com paredes, divisões e placas originais da locação (provavelmente um hospital ou repartição pública). Não combina, fica claro tratar-se de montagem barata. Que não custou tão barato assim. Espero que não se ofendam, peço que os amigos espíritas lembrem-se que aquilo que viram na tela era uma representação artística, filmada na Terra, e não uma câmera astral no próprio Nosso Lar. Só estou dizendo que a montagem nos lugares terrenos e computacionais deixava brechas gritantes que nos faziam lembrar o tempo todo que era um filme. Faltou só tocar o celular de algum ator. E por falar em atores, eu espero que, ao vê-los numa obra de milhões de dólares, eu não me lembre o tempo todo de que são atores. Só isso. Violinistas ali tocavam movimentos rápidos de Vivaldi sem sequer mover os arcos direito!!! Todos chorando devido ao encontro da mãe de André, e eu rindo por causa dos arcos. Tá certo que eu estudei violino, e a maioria do cinema não. Mas não seria pedir muito se os atores ao menos movessem os braços no ritmo aproximado da música? Espero que pedir para que entendam que o movimento do arco promove o som não seja pedir demais do laboratório PROFISSIONAL que deveriam fazer para a composição de seu personagem de figuração como todo filme, Seria muito o diretor usar 2000 dólares de seus 20 milhões para pagar o cachê de uma orquestra de câmara que fizesse uma pontinha ali? Provavelmente iriam de graça, pela divulgação. Pelo menos era no astral. Nem vou comentar as mãozinhas das filhas de André ao piano no plano material, "tocando" um playback de Sonata ao Luar. Que eu me lembre, Beethoven era surdo, e não cego. Ele deve ter percebido, de algum lugar do umbral ou no “céu”."

Por fim: O filme emocionou e emociona muitas pessoas. Que bom que estão divulgando isso e melhor ainda que todos corram e leiam o livro e conheçam os bastidores que deram origem ao mesmo. A FEB me perdoe. Os artistas também e o público que discordar de mim idem: O filme NOSSO LAR é uma mera obra de ficção, mal produzida e com agravantes de interpretação ao movimento espírita, ainda com dogmas e rótulos, embora queiram afirmar que não. O filme está sendo recorde, e bem do contrário do filme “Chico Xavier” que foi ótimo, “Nosso Lar” foi, na minha expectativa e visão, um tiro no pé da filosofia espírita.

Grande abraço.

2 comentários:

  1. Meu caro.
    Compreendo sua critica ao filme Nosso Lar, mas cuidado com algumas afirmações e datas tipo "o sanitarista Carlos Chagas - que segundo Chico e muitos outros, seria o verdadeiro nome por detrás do pseudônimo "André Luiz". Onde você achou essa afirmação de Chico? Que conheça nunca soube dessa afirmação, André luiz foi outro médio, pesquise e verá. E esse seu tom de indiferença na cena do encontro de Andre Luiz com sua mãe, está um pouco jocoso, está soando meio prepotente e esta fazendo com que vc pareça o suprassumo do conhecimento cinematográfico, tambem, ocorre isso com relação ao espiritismo, quando vc as vezes mistura a doutrina com o movimento, faz parecer que você tambem é o maior entendedor da doutrina.

    Abraços fraternos, do amogo de sempre.

    Kelinho.

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  2. Mestre Kelinho... é sabido, desde os meus 14 anos que o André Luiz era o Carlos Chagas. A FEB tentou mascarar isso depois. Hoje temos várias correntes que tentam despistar isso, eu nem você éramos nascidos, então antes de fazer esta afirmaç...ão eu pesquisei bastante. Eis aqui um diálogo editado pela própria FEB em 1952:

    "...Transcrevemos aqui, um episódio relatado à Carlos Baccelli pelo Dr. Rezende da Casa do Caminho, Ibiúna/SP, quando Chico Xavier e D.Corina Novelino conversavam em Monte Carmelo/MG: Numa das visitas que, na companhia do antigo companheiro de psicografia, Waldo Vieira, Chico realizava a Monte Carmelo - MG, cidade natal deste, D. Corina tinha, por momentos, oportunidade de, a sós, entabular descontraída conversa com nosso Chico. Enquanto ficou estacionado o veículo, ela se extasiava em apreciar a bucólica paisagem, rente a uma cachoeira existente entre Uberaba e Morte Carmelo, e disse-lhe:
    - Chico, tenho duas perguntas a lhe fazer...Você as responderá se quiser, mas eu não gostaria de permanecer com esta dúvida...
    - Pois não, minha filha - redargüiu o Médium, sentindo-se à vontade.
    - Quem foi André Luiz?
    Sem tecer qualquer comentário ou evasiva, Chico respondeu:
    - Carlos Chagas!
    E, logo após a primeira, ela aventou a segunda pergunta, que formulou também sem rodeios:
    - Chico, você é Kardec?...
    A esta segunda indagação - contou D Corina ao Dr. Rezende -, fitando-a fixamente nos olhos, ele nada respondeu.
    - Corina - desconversou ele, depois de breve silêncio -, o nosso Emmanuel está nos acenando do alto da cachoeira...". Como achamos que essa fonte de informação é altamente confiavel, segundo a nossa visão pessoal André Luiz é o mesmo espírito que na ultima encarnação se chamou Carlos Chagas."

    ( ... ) É só pesquisar Kelinho... inclusive no "Pinga-fogo" existiu esta pergunta... mas já foi retirada de circulação... Tudo para tentar destituir a aformação que o Chico fez por tempos.

    ...

    Eu não sou suprassumo nem do cinema nem do espiritismo.
    Sobre o cinema sou um cinéfilo confesso e a produção é uma lástima em relação à interpretação, direção e etc... Mas cada um com sua visão, rsrs.
    Sobre a 'doutrina' eu posso sem dúvidas discuti-la de forma ímpar. Já fiz vários estudos, pesquisas e tenho minahs consideração, Isso não me coloca num altar, mas me dá base para discutí-la sim. E aqui no Brasil moviumento e doutrina estão mais misturados que farinha de trigo no pão. Vamos deixar de besteira...rsrs. O movimento no Brasil está hoje dando um tiro no pé. E este filme foi outro certeiro.

    Concluindo... apenas coloco a público fruto de meus estudos, observações e sentimento. Sentir é mais forte que saber. Ainda estamos num mar de ignorância e nadando nele como podemos. Liberdade de crença, opinião e resposta... viva a democracia!!!

    Bjo imenso mestre Kelinho!!!

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