terça-feira, 24 de maio de 2011

CRISE DE CURA

Por Jordan Campos

Este documento abaixo, escrito por mim, é dedicado a todos os meus pacientes que entenderam o que explico aqui, aos que estão em pleno processo e aos que virão ter o mesmo na sua hora.

Crise de Cura definida por mim: Estado único no tempo em que o indivíduo exposto ao processo de cura enfrenta uma espécie de ‘piora’ no quadro, ‘tentação’ ou exposição completa à mesma fonte que causou o conflito, tendo em vista promover o equilíbrio de dentro para fora, do degenerativo crônico e estático ao agudo explícito – para expelir definitivamente o ‘mal’ que outrora o ocupou, seja este físico, mental ou espiritual. Pode ocorrer na forma de várias manifestações sendo as mais comuns: febre, alergia cutânea, aumento de mucosidade, desarranjo no sistema gástrico, aumento de alguma fobia, excitação, pequena confusão mental... Outro sintoma específico ou até passar despercebida. Pode durar de poucas horas a algumas semanas ou poucos meses.


Venho aqui falar deste assunto lindo, polêmico e muito pouco entendido pela forma clássica de se classificar saúde, sintoma e doença, melhora e piora – ou digamos logo: processo de cura. Venho falar sobre a Crise de Cura, uma ferramenta fantástica que o nosso corpo e mente usa para fechar as feridas e cauterizar as almas. Quando caímos num abismo emocional, quando vivemos um conflito na nossa mais profunda solidão, e não: ou o enfrentamos ou não fugimos, quer seja por circunstâncias sociais, familiares ou por ignorância mesmo, somatizamos isso de alguma forma em nosso corpo ou comportamento, e sim, adoecemos. Precisamos refazer o caminho da paralisia se quisermos estar curados completamente – não há outro meio.

Esquecemos que existe uma lógica perfeita em tudo que há. A natureza não dá saltos, tudo exige um caminho, uma entrega, um ‘seja feita à vossa vontade’ perto da nossa ignorância das leis da natureza divina. Se caímos em um poço, para sair dele (nos curar) temos que refazer o caminho de volta, e isso evoca no corpo e na mente as memórias da queda em cada passo da subida. Lembraremos e sentiremos os sustos, a leve confusão, e teremos que para sair dele entender principalmente por que caímos ou quem nos empurrou. A medicina clássica nestes momentos de crise de cura, onde o Ser se sobressalta por falta de conhecimento ainda destes processos, recorre a inibidores de sintomas, analgésicos e químicas para cortar sem saber, a beleza da cura, a dor sutil que liberta / o milho duro recebendo o calor do óleo para se libertar em bela pipoca. Hajam rivotris, fluoxetinas, sertralinas, quimioterapias e cia. ltda. Não há exceções: se quer ficar curado, se prepare para a guerra. Santa guerra

Aos meus pacientes indico que a partir do momento que começamos o tratamento se preparem para as provas, enfrentamentos e decisões: é preciso coragem e estar pronto para ficar bom – ficar curado exige preparo, disciplina e empenho. Por isso os entrevisto antes de qualquer coisa, e concedo depois a liberdade da comunicação total entre nós, fugindo à clássica e fria abordagem puramente psicanalítica e acadêmica. Ao sair da primeira consulta, uma placa de ‘estou em reforma, desculpem os transtornos’ vai junto. A terapia é intervencionista e profunda. E viramos parceiros no entendimento disso tudo.

Eu poderia classificar o processo de se adquirir um conflito até o seu devido expurgo em duas fases distintas. A Fase Fria e a Fase Quente. A primeira é levemente assintomática, provoca um desconforto mental moderado e a sensação de que algo não está bem, o sono fica comprometido, o sistema excretor modifica, o humor se altera, uma leve depressão ou euforia... Sentimos um pouco mais de frio ou muito calor. De repente, seja por uma decisão nossa ou por uma autorização de nosso organismo passamos para a fase de resolução seguinte: a Fase Quente: sintomas, dor, febre, humor aos extremos, idéias fixas, medo, ansiedade com sintomas, tumoração, ‘patologia’. Neste exato momento o corpo se prepara para simplesmente curar, mas por duvidarmos dele, acreditamos que suprimir sintomas resolverá e assim, sempre se interromperá a cura, e o corpo entrará em colapso, desesperado, por simplesmente querer se ver curado. E tentam controlá-lo, à força, e ele luta, e isso dói muito. Deixa assim novas marcas e novos conflitos. Uma verdadeira metástase do quadro. E não estou aqui falando de câncer, estou colocando tudo na mesma panela.

A crise de cura passa tão logo a aceitemos e façamos dela uma parceira, um anjo esperado, o óleo quente que vem nos ressuscitar à uma nova vida. Repito: não há cura sem passar pela Crise de Cura. A maior parte das pessoas que conheço estão sendo controladas em suas Crises de Cura e nunca saem dela. Presas e encarceradas. A história nos mostra isso: não há evolução sem revolução, não se consegue a iluminação sem enfrentar as trevas, os heróis tinham que descer aos abismos e enfrentar dragões e demônios, Jesus foi ‘tentado’ no deserto. Crises de cura espalhadas em histórias, mitos e símbolos.

Pelo meu discurso pode parecer que sou um extremista radical contra a medicina, mas engana-se quem superficialmente julga assim. Existem médicos maravilhosos e voltados para enxergar o corpo no seu total, missionários de luz desviando das regras da ciência ortodoxa e autoritária. Uma nova verdade científica nunca irá triunfar por que conseguimos convencer seus opositores de uma ‘nova verdade’. Isso é utopia. Estes opositores que ocupam os cargos de poder na evolução da ciência precisam literalmente morrer, para que em suas cadeiras novos membros, simpáticos à idéia façam a passagem de atualização. P rocurem então médicos que tenham uma visão total, que olhe nos olhos, que consigam ir além da simples receita para seu sintoma. Procurem terapeutas que não queiram prendê-los em anos de terapia e sim resolver com intervenção o que o inconsciente guarda. Profissionais que ajudem a melhorar, e a passar pela Crise de Cura. Sou a favor da ciência, a favor da medicina, a favor da vida. Mas que seja respeitada integralmente. Apena sisso.

Tem quem me chegue no consultório em plena Crise de Cura mal entendida e ‘controlada’. Quem tem que me chegue sem ela ainda, mas sabendo que quer se livrar do incômodo do conflito em sua fase fria e gélida. Já passei eu mesmo por várias Crises de Cura, por sutis ‘agravamentos’ libertadores - é preciso amor, temperança, submissão à Lei maior que nos vitaliza. Matemática de Deus. Crises de Cura no pânico, nas depressões, nos processos de auto-sabotagem, solidão profunda e síndromes psiquiátricas ditas sem cura... Lindo, lindo!!!

A minha filosofia de terapia, e a de vários colegas emergentes nesta arte, não é promover uma leve melhora, o que acontece sempre de imediato se o terapeuta tiver química. É sim, promover a cura real e profunda e passar de mãos e almas dadas por todas as fases desta santa guerra com o paciente. Por isso o tratamento, por isso a ferramenta de lide com o inconsciente, pois a evolução está em se dar conta do que sempre tivemos, mas desconhecemos. Retirar as máscaras do ego e deixar apenas o que se é, mas quase nunca se sabe.

Um comentário:

  1. Aprendi que toda e qualquer mudança oferece pequenos ou enormes transtornos. Que na maioria das vezes é necessário destruir uma estrutura frágil, pra reconstruir uma solida e que o tempo da “cura” é de total responsabilidade nossa. Precisamos estar envolvidos no processo, ampliar nossa consciência, e assim dar início ao trabalho que tanto necessitamos. Reformar-nos intimamente, buscando minimizar nossas mazelas sem nos martirizarmos, não é tarefa fácil mais certamente o tratamento terá grande êxito. Se permitirmo-nos viver em situações onde sentiremos, dor, sofrimento e medo, estaremos condicionando nossa mente a viver em um abismos obscuro, e ai sim passaremos a temer qualquer expectativa de luz. Acima de tudo, existe um poder maior que nos auxilia em toda e quaisquer circunstância. Lembrando que cada um de nós tem o poder de ser Totalmente Feliz! Parabéns pelo trabalho, Jordan.

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