sábado, 28 de agosto de 2010

O Encontro (no castelo dos destinos cruzados)

Por Jordan Campos


Ela me perguntou o que era aquele vazio.
Desconfiava que sua introspecção não fosse apenas TPM ou genérico hormonal.
(Sim, e a lua já minguava...)
Nem falta de amor humano ou divino que seja.
(Mas insistia que sentia um vazio...)
E exigiu uma resposta às quatro da manhã.

Queria ela uma resposta inefável que captaria por telepatia
Ou uma carta definitiva que não deixasse opção a quem lê?
No castelo dos destinos que se cruzam no tempo
Ninguém sabe se já foi ou se ainda pode ser.
Foi quando me veio a visão arrebatadora:

Havia uma linda menina de riso fácil caminhando liturgicamente.
Que um dia (e não me pergunte agora o porquê), quando andava livremente...
Foi paralisada num instante, no típico conflito existencial
De não poder enfrentar, nem fugir... Nem sim, nem não...
Mas uma longa tecla “pause” apertou-se.
Sua alma, numa tentativa de lhe tirar daquilo... Apertou então a tecla “eject”.
E lá se foi uma parte dela, morar em outro lugar distante daquela equação.
Isso foi puramente inconsciente...

E eu chamo este vazio de solidão.
Não a solidão confundida com a carência, pois não era isso.
Não a solidão confundida com saudade, não, não...
Nem a solidão confundida quando saímos de tudo para cortejar nosso pouco.
Nem a solidão de falta de gente ao redor, pois isso era apenas mera condição oportuna.
Mas era uma solidão real, digo: uma busca maior por si mesma.
Na consciência daquela mulher não havia sentido em continuar assim.
Mas na consciência da menina perdida sim.
A mulher andava com um vazio na alma apenas por falta de si mesma.
Não adiantava o que fizesse ou buscasse, entrava num ciclo de procuras...
Procuras que levavam à confusão e à repetição.
Pois o corpo rejeitava como felicidade aquilo que não fosse ela realmente.
Ela sentia a solidão de ter uma parte de si mesma longe.
E procurava sem saber, apenas isso... Para então contemplar o todo
E fazer todo o sentido.

Onde a menina está?
Num lugar protegido ou assediado pelas suas formas-pensamento.
E quando a mulher sente aquele vazio, é porque em outra dimensão
A menina está triste e talvez com medo, ou quem sabe ainda na paralisia.

Sim, posso te ajudar a trazer a menina de volta
Conheço estes lugares e truques de sobrevivência da alma.
A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo:
Apaga o pequeno e alimenta o grande – e ela é grande.
É fechar os os olhos para fora e abrir para dentro
Entender que não existem coincidências e dar a mão.
Segurar forte e descer com uma parte ausente
E subir com duas boas novas, uma dentro e outra fora.
E ela já intui isso.
Amém.

2 comentários:

  1. LINDISSIMIO!!! Posso dizer que mais uma vez me identifiquei!!! Parabéns!!!!

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  2. Não há como não se identificar com palavras tão doces e amorosas. Com tanto cuidado e sensibilidade. Vc é um sucesso!
    Super beijo!
    Wanessa Torres Portugal

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